Texto de Malú Mainardi*
Segundo a definição filosófica no dicionário Oxford, ativismo significa qualquer doutrina ou argumentação que privilegie a prática efetiva de transformação da realidade em detrimento da atividade exclusivamente especulativa, frequentemente subordinando sua concepção de verdade e de valor ao sucesso ou pelo menos à possibilidade de êxito na ação.
Fiquei bastante pensativa ao entrar em contato com este termo, Ativismo Delicado. Sempre associei a palavra ativismo, de forma preconceituosa, à combate físico, enfrentamento de forma imposta buscando o respeito a um determinado posicionamento, gritaria, faixas, como vemos em passeatas…
Recordei também de um livro do Tony Ramos que li anos atrás que leva o título “No tempo da delicadeza” onde ele menciona a perda da elegância nos dias atuais no trato com o outro, fazendo falta a frases como por favor, obrigada, com licença ou eu gosto de você.
De onde eu vim, não aprendi a forma que eu considero delicada de expressão. Falar delicadamente eu entendo que seja, em primeiro, pensar antes de falar, falar com calma, clareza, procurar novas formas de explicar o que não foi entendido, Falar com verdade, sem sarcasmo, sem duplas mensagens, sem querer ferir. Falar tudo o que precisa ser dito de forma responsável buscando uma forma de não machucar. Tudo pode ser dito, mas, existem jeitos e jeitos de se dizer as coisas.
Existe ainda o aspecto que ultrapassa o dizer, que é o comunicar. Comunicar não acontece necessariamente com palavras, podem ser gestos, energia ou falta dela para realizar tarefas, respirações profundas, ficar sem respirar, o corpo contraído ou relaxado, sorrisos ou a falta deles, olhos que se reviram. Este comunicar pode ou não ser delicado.
Voltando a um fragmento da definição filosófica mencionada no início - prática efetiva de transformação da realidade - penso que esta delicadeza atrelada ao ativismo, faz o objetivo deste ativismo voltar para o interno de cada um. A delicadeza passa a ser uma expressão da realidade interna de cada um. Para tanto, preciso encontrar essa delicadeza primeiro dentro de mim, comigo, em meus pensamentos, sentimentos e atitudes, para então, levantar a bandeira do ativismo sob essa ótica.
Por um outro lado, todas as atividades que eu realizo e que proporcionam a transformação da realidade daqueles que convivem comigo, atividades estas que são fundamentais, mas que, em sua maioria, passam despercebidas, fazem parte deste ativismo delicado, uma vez que levam meu sentimento como base de realização. Por conta disso, a primeira pessoa que precisa valorar o ativismo delicado através do reconhecimento pleno do que faço, sou eu mesma.
O que eu faço têm importância, o que eu sou têm importância e é revolucionário!
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Aula de Nina Veiga
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*Malú Mainardi
Artista manual buscando e encontrando seu espaço.
“Se você me perguntar o que vim fazer neste mundo, eu, artista, responderei: estou aqui para viver em voz alta!" (Emile Zola)